Nos ensinamentos que os espíritos superiores ministraram ao insigne codificador do espiritismo, encontramos um acervo literário tão rico e farto, contido na própria codificação que decisivamente marcou e dividiu a humanidade em termos de conhecimento das Leis universais que regulam a nossa vida de espíritos eternos, que somos, em antes e depois de Allan Kardec.
Antes, buscávamos a idéia de fazer o bem porque desta forma ele nos traria o bem como retorno a nossa vida, ajudar o próximo, praticar a solidariedade, a indulgência, a tolerância, perdoar as ofensas e agressões que sofremos, seriam assim, moedas com a qual compraríamos o nosso bem estar definitivo para o nosso futuro, seria uma espécie de investimento estrategicamente planejado.
Estaríamos com isso buscando nos livrar do fogo fatídico do inferno e adquirindo o passe de entrada, que nos garantiria um lugarzinho no céu, ao lado dos eleitos do senhor, para desfrutarmos daí em diante das regalias, das festas etc... da desobrigação de nos preocuparmos em algo fazer, pois tudo nos seria doravante concedido gratuitamente.
Com o advento do espiritismo, a humanidade passou a enxergar o trabalho no bem, não como uma forma de conquistar um lugar no céu, de forma egoísta, de algo fazer para receber uma compensação que justificasse essa prática, e sim, fazer por prazer sem visar recompensa em troca, pois os espíritos através do codificador do espiritismo nos ensinaram que proceder no bem é antes de tudo uma atitude inteligente em prol de nós mesmos na busca da felicidade que tanto almejamos.
E com a máxima “Fora da caridade não há salvação”, veio o espiritismo difundir por toda a terra a mensagem já existente de Jesus quando nos afirmou que “a cada um segundo as suas obras” explicando a todos que a nossa vivência no bem é condição imprescindível para lograrmos êxito nos empreendimentos de construção da nossa paz íntima, que só a fé anteriormente entendida como capaz de nos proporcionar, já não é suficiente para nos assegurar futuro melhor do que vivenciamos agora, conforme contido no Capítulo XXXI do Livro dos Médiuns que transcrevemos abaixo:
Acerca do Espiritismo
I
“Mas, lembrai-vos bem de que o Cristo renega, como seu discípulo, todo aquele que só nos lábios tem a caridade.
Não basta crer; é preciso, sobretudo, dar exemplos de bondade, de tolerância e de desinteresse, sem o que estéril será a vossa fé.
Santo Agostinho.
Pois, que a nossa caminhada até os dias atuais, foi percorrida de maneira irregular, com altos e baixos, por descuido nosso, por falta de vigilância em quase todos os instantes de nossa romagem pretérita, em que nos fizemos devedores das Leis divinas e, tudo que hoje empreendemos no sentido de buscar a harmonia interior, a serenidade em nós mesmos, não significa construção nossa em favor da vida ou do nosso semelhante, antes devemos entender esta nossa atual encarnação como sendo mais uma oportunidade de nos normalizarmos perante as Leis imutáveis de Deus, desfazendo o castelo de egoísmo e orgulho que construímos ao longo de nossas várias estadas neste planeta, e edificarmos o nosso novo projeto de construção baseado na caridade e no amor ao próximo, como nos ensinou Jesus, quando resumiu toda a Lei e os Profetas em “amar a Deus sobre todas coisas e ao próximo como a nós mesmos”.
É ainda no mesmo Capítulo do Livro dos Médiuns que encontramos uma mensagem simplesmente extraordinária, que o próprio Allan Kardec nos deixou o cuidado do exame quanto ao seu autor que nos confirma a condição de filhos transviados que fomos outrora, e que o espiritismo vem nos alertar para a grande oportunidade que estamos tendo de refazermos nossos caminhos em busca da luz que esparge amorosa do coração do nosso Mestre maior em direção a cada um de nós seus diletos e queridos irmãos conforme segue.
Livro dos médiuns Capítulo XXXI
“Venho, eu, vosso Salvador e vosso juiz; venho, como outrora, aos filhos transviados de Israel; venho trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como outrora a minha palavra, tem que lembrar aos materialistas que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar a planta e que levanta as ondas. Revelei a Doutrina Divina; como o ceifeiro, atei em feixes o bem esparso na Humanidade e disse: Vinde a mim, vós todos que sofreis! Mas, ingratos, os homens se desviaram do caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e se perderam nas ásperas veredas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer, não mais por meio de profetas, não mais por meio de apóstolos, porem, que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto a morte não existe, vos socorrais e que a voz dos que já não existem ainda se faça ouvir, clamando-vos: Orai e crede! por isso que a morte é a ressurreição, e a vida - a prova escolhida, durante a qual, cultivadas, as vossas virtudes têm que crescer e desenvolver-se como o cedro.
Crede nas vozes que vos respondem: são as próprias almas dos que evocais. Só muito raramente me comunico. Meus amigos, os que hão assistido à minha vida e à minha morte são os intérpretes divinos das vontades de meu Pai.
Homens fracos, que acreditais no erro das vossas inteligências obscuras, não apagueis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos, para vos clarear a estrada e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.
Em verdade vos digo: crede na diversidade, na multiplicidade dos Espíritos que vos cercam. Estou infinitamente tocado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa imensa fraqueza, para deixar de estender mão protetora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem no abismo do erro. Crede, amai, compreendei as verdades que vos são reveladas; não mistureis o joio com o bom grão, os sistemas com as verdades.
Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensino; instruí-vos, eis o segundo.
Todas as verdades se encontram no Cristianismo; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgais o nada, vos clamam vozes: Irmãos! nada perece; Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade”.
“NOTA. Esta comunicação, obtida por um dos melhores médiuns da Sociedade Espírita de Paris, foi assinada com um nome que o respeito nos não permite reproduzir, senão sob todas as reservas, tão grande seria o insigne favor da sua autenticidade e porque dele se há muitas vezes abusado demais, em comunicações evidentemente apócrifas. Esse nome é o de Jesus de Nazaré. De modo algum duvidamos de que ele possa manifestar-se; mas, se os Espíritos verdadeiramente superiores não o fazem, senão em circunstâncias excepcionais, a razão nos inibe de acreditar que o Espírito por excelência puro responda ao chamado do primeiro que apareça. Em todo caso, haveria profanação, no se lhe atribuir uma linguagem indigna dele.
Por estas considerações, é que nos temos abstido sempre de publicar o que traga esse nome. E julgamos que ninguém será circunspecto em excesso no tocante a publicações deste gênero, que apenas para o amor-próprio têm autenticidade e cujo menor inconveniente é fornecer armas aos adversários do Espiritismo.
Como já dissemos, quanto mais elevados são os Espíritos na hierarquia, com tanto mais desconfiança devem os seus nomes ser acolhidos nos ditados. Fora mister ser dotado de bem grande dose de orgulho, para poder alguém vangloriar-se de ter o privilégio das comunicações por eles dadas e considerar-se digno de com eles confabular, como com os que lhe são iguais.
Na comunicação acima apenas uma coisa reconhecemos: é a superioridade incontestável da linguagem e das idéias, deixando que cada um julgue por si mesmo se aquele de quem ela traz o nome não a renegaria”.
Por tudo isso, é que continuamos insistindo em que nós espíritas não podemos deixar de lado o estudo das obras da codificação como dever principal no sentido de alicerçarmos nossos conhecimentos nos ensinos nela contidos, a fim de que quando nos utilizarmos das obras complementares, de grande valor doutrinário indiscutivelmente, possamos fazê-lo com conhecimento de causa, não nos deixando influenciar por obras mediúnicas sim mas não espíritas, que hoje infestam as livrarias das casas espíritas, vendidas como se representassem algo proveitoso para quem os adquire sem prévio conhecimento do verdadeiro espiritismo contido nas obras do pentateuco.
Francisco Rebouças