Em se tratando de reforma íntima:

“Fácil é dizer como se faz. Difícil é fazer como se diz. Precisamos fazer mais e dizer menos.

Francisco Rebouças.

domingo, 6 de abril de 2008

Nossas Interpretações

Poucas criaturas entenderam a essência dos ensinamentos contidos nas mensagens de Jesus, quando nos afirmava que só a transformação moral da criatura e sua incessante ação no bem, com desprendimento total da posse dos títulos e valores efêmeros, e conseguintemente a disposição de desenvolver as virtudes do Espírito Imortal, adormecidas no imo de cada Ser, seriam capazes de estabelecerem a paz e a justiça no mundo em que vivemos.

Vemos, por isso mesmo, as diversas interpretações muitas delas completamente infundadas, interpretadas por cada indivíduo segundo sua capacidade de entendimento e discernimento, ao longo da história do Cristianismo.

Transcrevemos a seguir, uma delas, contada pelo Irmão X, ao nosso saudoso Chico Xavier, e que tem por título:

O programa do Senhor
Sob os olhares da Turba faminta, Jesus multiplicou os Pães e os Peixes, saciando a fome da multidão, que ficara maravilhada.
O Povo, jazia entre o êxtase e o júbilo, numa alegria intraduzível.
Foram aquinhoados, presenciaram, por um sinal do Céu, maior do que os de Moisés e Josué.
Um misto de admiração e assombro dominava a massa compacta.
Estavam presentes, ali, pessoas procedentes das mais diversas regiões.
Além dos costumeiros peregrinos, em grande número, que se adensavam habitualmente em torno do Mestre, buscando consolação e cura, estavam também: Mercadores da Iduméia, negociantes da Síria, soldados Romanos, e cameleiros do deserto, formando uma multidão espetacular...na qual se destacavam as exclamações das mulheres e o choro das criancinhas.
O povo convenientemente sentado na relva, recebia com contentamento e prazer, o saboroso alimento que, resultara do milagre sublime.
Água pura em grandes bilhas, era servida, após o substancioso repasto, pelas mãos robustas dos Apóstolos.
Jesus renovar as promessas do Reino de Deus, de semblante sereno, doce, meigo, contemplava os seguidores, na eminência do Monte.
Semelhava-se realmente a um Príncipe, materializado, de súbito na Terra, pela suavidade que lhe transparência da fronte excelsa, tocada pela brisa que soprava levemente...
Expressões de reconhecimento eram ouvidas, aqui e ali.
Não fornecera ele provas de inexcedível poder?
Não era o maior de todos os profetas?
Não seria ele o libertador da raça escolhida?
Recolhiam os discípulos a sobra abundante do extraordinário banquete, quando MALEBEL, espadaúdo assessor da Justiça em Jerusalém, acercou-se do Mestre e clamou para a multidão haver encontrado o restaurador de Israel.
Esclareceu que conviria receber-lhe as determinações, desde aquela hora inesquecível, e os ouvintes reergueram-se, à pressa, engrossando fileiras, ao redor do Messias Nazareno.
Jesus, em silêncio, esperou que alguém lhe endereçasse a palavra e, efetivamente, Malebel não se fez de rogado.
-Senhor – indagou, exultante, és, em verdade, o arauto do novo Reino?
-sim – respondeu o cristo, sem titubear.
-Em que alicerces será estabelecida a nova ordem? – prosseguiu o oficial do Sinédrio, dilatando o diálogo.
-Em obrigações de trabalho para todos.
O interlocutor esfregou o sobrecenho com a mão direita, evidentemente inquieto, e continuou:
-Instituir-se-á, porém, uma organização hierárquica?
-Como não? – acentuou o Mestre, sorrindo.
-Qual a função dos melhores?
Melhorar os piores.
-E a ocupação dos mais inteligentes?
-Instruir os ignorantes.
-Senhor, e os bons? Que farão os homens bons, dentro do novo sistema?
-Ajudarão os maus, a fim de que estes se façam igualmente bons.
-E o encargo dos ricos?
Amparar os mais pobres para que também se enriqueçam de recursos e conhecimentos.
-Mestre – tornou Malebel, desapontado, quem ditará semelhantes normas?
-O amor pelo sacrifício, que florescerá em obras de paz no caminho de todos.
-E quem fiscalizará o funcionamento do novo regime?
-A compreensão da responsabilidade em cada um de nós.
-Senhor, como tudo isso é estranho! – considerou o noviço, alarmado – desejarás dizer que o Reino diferente prescindirá de palácios, exércitos, prisões, impostos, e castigos?
-Sim – aclarou Jesus, abertamente, dispensará tudo isso e reclamará o espírito de renúncia, de serviço, de humildade, de paciência, de fraternidade, e sobretudo, do amor de que somos credores, uns para com ou outros, e a nossa vitória permanecerá muito mais na ação incessante do bem com o desprendimento da posse, na esfera de cada um, que nos próprios fundamentos da Justiça, até agora conhecidos no mundo.
Nesse instante, justamente quando os doentes e os aleijados, os pobres e os aflitos desciam da colina tomados de intenso júbilo, Malebel, o destacado funcionário de Jerusalém, exibindo terrível máscara de sarcasmo na fisionomia dantes respeitosa, voltou as costas ao Senhor, e, acompanhado por algumas centenas de pessoas bem situadas na vida, deu-se pressa em retirar-se, proferindo frases de insulto e zombaria...
O milagre dos Pães, fora rapidamente esquecido, dando a entender que a memória funciona dificilmente nos estômagos cheios, e, se Jesus não quis perder o contato coma a multidão, naquela hora célebre, foi obrigado a descer também. 1

Tenhamos pois, meus irmãos, muito cuidado com nossas particulares interpretações dos ensinos do Mestre de todos nós, para não mais cairmos nos velhos equívocos de outros tempos, quando não dispúnhamos da mensagem consoladora e esclarecedora da Doutrina Espírita.
Que Jesus nos ajude a manter os corações alegres unidos e confiantes, hoje e sempre.
Fonte:
1) Capítlo 1 do Livro; Pontos e ContosIrmão X através de Chico Xavier.
JFCR.