quinta-feira, 8 de julho de 2010
Sonho, uma verdadeira dádiva!
O sono e os sonhos
Todos nós sabemos da necessidade do sono para o refazimento do nosso organismo físico. No entanto, é preciso que se atente para o fato, de que nem sempre nos é adequado fazer uso dessa bênção para nos restabelecer o equilíbrio, havendo mesmo ocasiões em que ele pode até se tornar fatal para nossas vidas.
Nas reuniões públicas ou de estudos, por exemplo, não se pode admitir como normal esse procedimento; imagine um médico em plena atividade de um procedimento cirúrgico, ou alguém tomando conta de uma criança, etc. etc.
Por essa razão, precisamos utilizar o sono como aliado para nossa vida e saber tirar do sono o melhor proveito em nosso próprio benefício na harmonização de nossas forças físicas para os labores diários, para um perfeito cumprimento de nossas atividades em todas as áreas de nossa atuação com esmero e responsabilidade.
Alan Kardec nos esclarece a respeito da utilidade do sono conforme segue:
À hora de dormir
“O sono tem por fim dar repouso ao corpo; o Espírito, porém, não precisa de repousar. Enquanto os sentidos físicos se acham entorpecidos, a alma se desprende, em parte, da matéria e entra no gozo das faculdades do Espírito. O sono foi dado ao homem para reparação das forças orgânicas e também para a das forças morais. Enquanto o corpo recupera os elementos que perdeu por efeito da atividade da vigília, o Espírito vai retemperar-se entre os outros Espíritos. Haure, no que vê, no que ouve e nos conselhos que lhe dão, idéias que, ao despertar, lhe surgem em estado de intuição. É a volta temporária do exilado à sua verdadeira pátria. É o prisioneiro restituído por momentos à liberdade.
Mas, como se dá com o presidiário perverso, acontece que nem sempre o Espírito aproveita dessa hora de liberdade para seu adiantamento. Se conserva instintos maus, em vez de procurar a companhia de Espíritos bons, busca a de seus iguais e vai visitar os lugares onde possa dar livre curso aos seus pendores.
Eleve, pois, aquele que se ache compenetrado desta verdade, o seu pensamento a Deus, quando sinta aproximar-se o sono, e peça o conselho dos bons Espíritos e de todos cuja memória lhe seja cara, a fim de que venham juntar-se-lhe, nos curtos instantes de liberdade que lhe são concedidos, e, ao despertar, sentir-se-á mais forte contra o mal, mais corajoso diante da adversidade.” ¹
400. O Espírito encarnado permanece de bom grado no seu envoltório corporal?
“É como se perguntasses se ao encarcerado agrada o cárcere. O Espírito encarnado aspira constantemente à sua libertação e tanto mais deseja ver-se livre do seu invólucro, quanto mais grosseiro é este.”
401. Durante o sono, a alma repousa como o corpo?
“Não, o Espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços que o prendem ao corpo e, não precisando este então da sua presença, ele se lança pelo espaço e entra em relação mais direta com os outros Espíritos ”
402. Como podemos julgar da liberdade do Espírito durante o sono?
“Pelos sonhos, Quando o corpo repousa, acredita-o, tem o Espírito mais faculdades do que no estado de vigília. Lembra-se do passado e algumas vezes prevê o futuro. Adquire
maior potencialidade e pode por-se em comunicação com os demais Espíritos, quer deste mundo, quer do outro. Dizes freqüentemente: Tive um sonho extravagante, um sonho horrível, mas absolutamente inverossímil. Enganaste. É amiúde uma recordação dos lugares e das coisas que viste ou que verás em outra existência e das coisas que viste ou que verás em outra existência ou em outra ocasião. Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de quebrar seus grilhões e de investigar no passado ou no futuro.
“Pobres homens, que mal conheceis os mais vulgares fenômenos da vida! Julgais-vos muito sábios e as coisas mais comezinhas vos confundem. Nada sabeis responder a estas perguntas que todas as crianças formulam: Que fazemos quando dormimos? Que são os sonhos?
“O sono liberta a alma parcialmente do corpo. Quando dorme, o homem se acha por algum tempo no estado em que fica permanentemente depois que morre. Tiveram sonos inteligentes os Espíritos que, desencarnando, logo se desligam da matéria. Esses Espíritos, quando dormem, vão para junto dos seres que lhes são superiores. Com estes viajam, conversam e se instruem. Trabalham mesmo em obras que se lhes deparam concluídas, quando volvem, morrendo na Terra, ao mundo espiritual. Ainda esta circunstância é de molde a vos ensinar que não deveis temer a morte, pois que todos os dias morreis, como disso um santo.
“Isto, pelo que concerne aos Espíritos elevados. Pelo que respeita ao grande número de homens que, morrendo, têm que passar longas horas na perturbação, na incerteza de que tantos já vos falaram, esses vão, enquanto dormem, ou a mundos inferiores à Terra, onde os chamam velhas afeições, ou em busca de gozos quiçá mais baixos do que os em que aqui tanto se deleitam. Vão beber doutrinas ainda mais vis, mais ignóbeis, mais funestas do que as que professam entre vós. E o que gera a simpatia na Terra é o fato de sentir-se o homem, ao despertar, ligado pelo coração àqueles com quem acaba de passar oito ou nove horas de ventura ou de prazer. Também as antipatias invencíveis se explicam pelo fato de sentirmos em nosso íntimo que os entes com quem antipatizamos têm uma consciência diversa da nossa. Conhecemo-los sem nunca os termos visto com os olhos. É ainda o que explica a indiferença de muitos homens. Não cuidam de conquistar novos amigos, por saberem que muitos têm que os amam e lhes querem. Numa palavra: o sono influi mais do que supondes na vossa vida.
“Graças ao sono, os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o mundo dos Espíritos. Por isso é que os Espíritos superiores assentem, sem grande repugnância, em encarnar entre vós. Quis. Deus que, tendo de estar em contacto com o vício, pudessem eles ir retemperar-se na fonte do bem, a fim de igualmente não falirem, quando se propõem a instruir os outros. O sono é a porta que Deus lhes abriu, para que possam ir ter com seus amigos do céu; é o recreio depois do trabalho, enquanto esperam a grande libertação, a libertação final, que os restituirá ao meio que lhes é próprio.
“O sonho é a lembrança do que o Espírito viu durante o sono. Notai, porém, que nem sempre sonhais. Que quer isso dizer? Que nem sempre vos lembrais do que vistes, ou de tudo o que haveis visto, enquanto dormíeis. É que não tendes então a alma no pleno desenvolvimento de suas faculdades. Muitas vezes, apenas vos fica a lembrança da perturbação que o vosso Espírito experimenta à sua partida ou no seu regresso, acrescida da que resulta do que fizestes ou do que vos preocupa quando despertos. A não ser assim, como explicaríeis os sonhos absurdos, que tanto os sábios, quanto as mais humildes e simples criaturas têm? Acontece também que os maus Espíritos se aproveitam dos sonhos para atormentar as almas fracas e pusilânimes.
“Em suma, dentro em pouco vereis vulgarizar-se outra espécie de sonhos. Conquanto tão antiga como a de que vimos falando, vós a desconheceis. Refiro-me aos sonhos de Joana, ao de Jacob, aos dos profetas judeus e aos de alguns adivinhos indianos. São recordações guardadas por almas que se desprendem quase inteiramente do corpo, recordações dessa segunda vida a que ainda há pouco aludíamos.“Tratai de distinguir essas duas espécies de sonhos nos de que vos lembrais, do contrário cairíeis em contradições e em erros funestos à vossa fé.”
Os sonhos são efeito da emancipação da alma, que mais independente se torna pela suspensão da vida ativa e de relação. Daí uma espécie de clarividência indefinida que se
alonga até aos mais afastados lugares e até mesmo a outros mundos. Daí também a lembrança que traz à memória acontecimentos da precedente existência ou das existências anteriores. As singulares imagens do que se passa ou se passou em mundos desconhecidos, entremeados de coisas do mundo atual, é que formam esses conjuntos estranhos e confusos, que nenhum sentido ou ligação parecem ter.
A incoerência dos sonhos ainda se explica pelas lacunas que apresenta a recordação incompleta que conservamos do que nos apareceu quando sonhávamos. É como se a uma narração se truncassem frases ou trechos ao acaso. Reunidos depois, os fragmentos restantes nenhuma significação racional teriam.
403. Por que não nos lembramos sempre dos sonhos?
“Em o que chamas sono, só há o repouso do corpo, visto que o Espírito está constantemente em atividade. Recobra, durante o sono, um pouco da sua liberdade e se corresponde com os que lhe são caros, quer neste mundo, quer em outros. Mas, como é pesada e grosseira a matéria que compõe, o corpo dificilmente conserva as impressões que o Espírito recebeu, porque a este não chegaram por intermédio dos órgãos corporais.”
404. Que se deve pensar das significações atribuídas aos sonhos?
“Os sonhos não são verdadeiros como o entendem os ledores de buena-dicha, pois fora absurdo crer-se que sonhar com tal coisa anuncia tal outra. São verdadeiros no sentido de que apresentam imagens que para o Espírito têm realidade, porém que, freqüentemente, nenhuma relação guardam com o que se passa na vida corporal. São também, como atrás dissemos, um pressentimento do futuro, permitido por Deus, ou a visão do que no momento ocorre em outro lugar a que a alma se transporta. Não se contam por muitos os casos de pessoas que em sonho aparecem a seus parentes e amigos, a fim de avisá-los do que a elas está acontecendo? Que são essas aparições senão as almas ou Espíritos de tais pessoas a se comunicarem com entes caros? Quando tendes certeza de que o que vistes realmente se deu, não fica provado que a imaginação nenhuma parte tomou na ocorrência, sobretudo se o que observastes não vos passava pela mente quando em vigília?”
405. Acontece com freqüência verem-se em sonho coisas que parecem um pressentimento, que, afinal, não se confirma. A que se deve atribuir isto
“Pode suceder que tais pressentimentos venham a confirmar-se apenas para o Espírito. Quer dizer que este viu aquilo que desejava, foi ao seu encontro. É preciso não esquecer que, durante o sono, a alma está mais ou menos sob a influência da matéria e que, por conseguinte, nunca se liberta completamente de suas idéias terrenas, donde resulta que as preocupações do estado de vigília podem dar ao que se vê a aparência do que se deseja, ou do que se teme. A isto é que, em verdade, cabe chamar-se efeito da imaginação. Sempre que uma idéia nos preocupa fortemente, tudo o que vemos se nos mostra ligado a essa idéia.”
406. Quando em sonho vemos pessoas vivas, muito nossas conhecidas, a praticarem atos de que absolutamente não cogitam, não é isso puro efeito de imaginação?
“De que absolutamente não cogitam, dizes. Que sabes a tal respeito? Os Espíritos dessas pessoas vêm visitar o teu como o teu os vai visitar, sem que saibas sempre o em que eles pensam. Demais, não é raro atribuirdes, de acordo com o que desejais, a pessoas que conheceis, o que se deu ou se está dando em outras existências.”
407. É necessário o sono completo para a emancipação do Espírito?
“Não; basta que os sentidos entrem em torpor para que o Espírito recobre a sua liberdade. Para se emancipar, ele se aproveita de todos os instantes de trégua que o corpo lhe concede. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, tornando-se tanto mais livre, quanto mais fraco for o corpo.”
Assim se explica que imagens idênticas às que vemos, em sonho, vejamos estando apenas meio dormindo, ou em simples modorra.
408. E qual a razão de ouvirmos, algumas vezes em nós mesmos, palavras pronunciadas distintamente e que nenhum nexo têm com o que nos preocupa?
“É fato: ouvis até mesmo frases inteiras, principalmente quando os sentidos começam a entorpecer-se. É quase sempre, fraco eco do que diz um Espírito que convosco se quer comunicar.”
409. Doutras vezes, num estado que ainda não é bem o do adormecimento, estando com os olhos fechados, vemos imagens distintas, figuras cujas mínimas particularidades percebemos. Que há aí, efeito de visão ou de imaginação?
“Estando entorpecido o corpo, o Espírito trata de desprender-se. Transporta-se e vê. Se já fosse completo o sono, haveria sonho.”
410. Dá-se também que, durante o sono, ou quando nos achamos apenas ligeiramente adormecidos, acodem-nos idéias que nos parecem excelentes e que se nos apagam da memória, apesar dos esforços que façamos para retê-las. Donde vêm essas idéias?
“Provêm da liberdade do Espírito que se emancipa e que, emancipado, goza de suas faculdades com maior amplitude. Também são, freqüentemente, conselhos que outros Espíritos dão.”
a) - De que servem essas idéias e esses conselhos, desde que, pelos esquecer, não os podemos aproveitar?
“Essas idéias, em regra, mais dizem respeito ao mundo dos Espíritos do que ao mundo corpóreo. Pouco importa que comumente o Espírito as esqueça, quando unido ao corpo. Na ocasião oportuna, voltar-lhe-ão como inspiração de momento.”
411. Estando desprendido da matéria e atuando como Espírito, sabe o Espírito encarnado qual será a época de sua morte?
“Acontece pressenti-la. Também sucede ter plena consciência dessa época, o que dá lugar a que, em estado de vigília, tenha intuição do fato. Por isso é que algumas pessoas prevêem com grande exatidão a data em que virão a morrer.”
412. Pode a atividade do Espírito, durante o repouso, ou o sono corporal, fatigar o corpo?
“Pode, pois que o Espírito se acha preso ao corpo qual balão cativo ao poste. Assim como as sacudiduras do balão abalam o poste, a atividade do Espírito reage sobre o corpo e pode fatigá-lo.”
Visitas espíritas entre pessoas vivas
413. Do princípio da emancipação da alma parece decorrer que temos duas existências simultâneas: a do corpo, que nos permite a vida de relação ostensivas; e a da alma, que nos proporciona a vida de relação oculta. É assim?
“No estado e emancipação, prima a vida da alma. Contudo, não há, verdadeiramente, duas existências. São antes duas fases de uma só existência, porquanto o homem não vive duplamente.”
414. Podem duas pessoas que se conhecem visitar-se durante o sono?
“Certo e muitos que julgam não se conhecerem costumam reunir-se e falar-se. Podes ter, sem que o suspeites, amigos em outro país. É tão habitual o fato de irdes encontrar-vos, durante o sono, com amigos e parentes, com os que conheceis e que vos podem ser úteis, que quase todas as noites fazeis essas visitas.”
415. Que utilidade podem elas ter, se as olvidamos?
“De ordinário, ao despertardes, guardais a intuição desse fato, do qual se originam certas idéias que vos vêm espontaneamente, sem que possais explicar como vos acudiram. São idéias que adquiristes nessas confabulações.”
416. Pode o homem, pela sua vontade, provocar as visitas espíritas? Pode, por exemplo, dizer, quando está para dormir: Quero esta noite encontrar-me em Espírito com Fulano, quero falar-lhe para dizer isto?
“O que se dá é o seguinte: Adormecendo o homem, seu Espírito desperta e, muitas vezes, nada disposto se mostra a fazer o que o homem resolvera, porque a vida deste pouco interessa ao seu Espírito, uma vez desprendido da matéria. Isto com relação a homens já bastante elevados espiritualmente. Os outros passam de modo muito diverso a fase espiritual de sua existência terrena. Entregam-se às paixões que os escravizaram, ou se mantêm inativos. Pode, pois, suceder, tais sejam os motivos que a isso o induzem, que o Espírito vá visitar aqueles com quem deseja encontrar-se. Mas, não constitui razão, para que semelhante coisa se verifique, o simples fato de ele o querer quando desperto.”
417. Podem Espíritos encarnados reunir-se em certo número e formar assembléias?
“Sem dúvida alguma. Os laços, antigos ou recentes, da amizade costumam reunir desse modo diversos Espíritos, que se sentem felizes de estar juntos.”
Pelo termo antigos se devem entender os laços de amizade contraída em existências anteriores. Ao despertar, guardamos intuição das idéias que haurimos nesses colóquios,mas ficamos na ignorância da fonte donde promanaram.
418. Uma pessoa que julgasse morto um de seus amigos, sem que tal fosse a realidade, poderá encontrar-se com ele, em Espírito, e verificar que continuava vivo? E dado o fato, poderia, ao despertar, ter dele a intuição?
“Como Espírito, a pessoa que figuras pode ver o seu amigo e conhecer-lhe a sorte. Se lhe não houver sido imposto, por prova, crer na morte desse amigo, poderá ter um pressentimento da sua existência, como poderá tê-lo de sua morte.” ²
Sonhos
O Espiritismo não podia deixar de interessar-se pelo problema dos sonhos, dando também, sobre eles, a sua interpretação.
Não podia o Espiritismo fugir a esse imperativo, eis que as manifestações oníricas têm acentuada importância em nossa vida de relação, uma vez que os chamados «sonhos espíritas» resultam, via de regra, das nossas próprias disposições, exercidas e cultivadas no estado de vigília.
A Doutrina Espírita não pode estar ausente de qualquer movimento superior, de fundo espiritual, que vise a amparar o Espírito humano na sua rota evolutiva.
Não é a Doutrina um movimento literário, circunscrito a gabinetes.
É um programa para ajudar o homem a crescer para Deus, a fim de que, elevando-se, corresponda ao imenso sacrifício daquele que, sendo o Cristo de Deus, se fez Homem para que os homens se tornassem Cristos.
Os sonhos, em sua generalidade, não representam como muitos pensam, uma fantasia das nossas almas, enquanto há o repouso do corpo físico.
Todos eles revelam, em sua estrutura, como fundamento principal, a emancipação da alma, assinalando a sua atividade extracorpórea, quando então se lhe associam, à consciência livre, variadas impressões e sensações de ordem fisiológica e psicológica.
Estudemos o assunto, que se reveste de singular encanto, à luz do seguinte gráfico:
CLASSIFICAÇÃO DOS SONHOS = {Comuns. = {Repercussão de nossas disposições, Físicas ou psicológicas.
{Reflexivos. = {Exteriorização de impulsos e imagens arquivadas no cérebro.
{Espíritas. = {Atividade real e efetiva do Espírito durante o sono.
Feita a classificação no seu tríplice aspecto, façamos, agora, a devida especificação:
Comuns: O Espírito é envolvido na onda de pensamentos que lhe são próprios, bem assim dos outros.
Reflexivos: A modificação vibratória, resultante do desprendimento pelo sono, faz o Espírito entrar em relação com fatos, imagens, paisagens e acontecimentos remotos, desta e de outras vidas.
Espíritas: Por «sonhos espíritas», situamos aqueles em que o Espírito se encontra, fora do corpo, com:
a) — parentes
b) — amigos
c) — instrutores
d) — inimigos, etc.
Outras denominações poderão, sem dúvida, ser-lhes dadas, o que, supomos, não alterará a essência do fenômeno em si mesmo.
Estamos ainda no plano muito relativo das coisas. Assim sendo, tendo cada palavra o seu lugar e a sua propriedade, cabia-nos o imperativo da nomenclatura.
Geralmente temos sonhos imprecisos, desconexos, freqüentemente interrompidos por cenas e paisagens inteiramente estranhas, sem o mais elementar sentido de ordem e seqüência.
Serão esses os sonhos comuns.
Aqueles em que o nosso Espírito, desligando-se parcialmente do corpo, se vê envolvido e dominado pela onda de imagens e pensamentos, seus e do mundo exterior, uma vez que vivemos num misterioso turbilhão das mais desencontradas idéias.
O mundo psíquico que nos cerca reflete as vibrações de bilhões de pessoas encarnadas e desencarnadas.
Deixando o corpo em repouso, o Espírito ingressa no plano espiritual com apurada sensibilidade, facultando ao campo sensório o recolhimento, embarafustado, de desencontradas imagens antes não percebidas, em face das limitações impostas pelo cérebro físico.
Ao despertarmos, guardaremos imprecisa recordação de tudo, especialmente da ausência de conexão nos acontecimentos que, em forma de incompreensível sonho, povoaram a nossa vida mental.
A esses sonhos chamaríamos sonhos comuns, por serem eles os mais freqüentes.
Por reflexivos, categorizamos os sonhos em que a alma, abandonando o corpo físico, registra as impressões e imagens arquivadas no subconsciente e plasmadas na organização perispiritual.
Tal registro é possível de ser feito em virtude da modificação vibratória, que põe o Espírito em relação com fatos e paisagens remotos, desta e de outras existências.
Ocorrências de séculos e milênios gravam-se indelevelmente em nossa memória, estratificando-se em camadas superpostas.
A modificação vibratória, determinada pela liberdade de que passa a gozar o Espírito, no sono, fá-lo entrar em relação com acontecimentos e cenas de eras distantes, vindos à tona em forma de sonho.
A esses sonhos, na esquematização de nosso singelo estudo, daremos a denominação de «reflexivos», por refletirem eles, evidentemente, situações anteriormente vividas.
Cataloguemos, por último, os sonhos espíritas.
Esses se revestem de maior interesse para nós, por atenderem com mais exatidão e justeza à finalidade deste livro, qual seja a de, sem fugir à feição evangélica, fazer com que todos os capítulos nos sejam um convite à reforma interior, como base para a nossa felicidade e meio para, em nome da fraternidade cristã, melhor servirmos ao próximo.
Nos sonhos espíritas a alma, desprendida do corpo, exerce atividade real e afetiva, facultando meios de encontrarmo-nos com parentes, amigos, instrutores e, também, com os nossos inimigos, desta e de outras vidas.
Quando os olhos se fecham, com a visitação do sono, o nosso Espírito parte em disparada, por influxo magnético, para os locais de sua preferência.
O viciado procurará os outros.
O religioso buscará um templo.
O sacerdote do Bem irá ao encontro do sofrimento e da lágrima, para assisti-los fraternalmente.
Enquanto despertos, os imperativos da vida contingente nos conservam no trabalho, na execução dos deveres que nos são peculiares.
Adormecendo, a coisa muda de figura.
Desaparecem, como por encanto, as conveniências.
A atividade extracorpórea passará a refletir, sem dissimulações ou constrangimentos, as nossas reais e efetivas inclinações, superiores ou inferiores.
Buscamos sempre, durante o sono, companheiros que se afinam conosco e com os ideais que nos são peculiares.
Para quem cultive a irresponsabilidade e a invigilância, quase sempre os sonhos revelarão convívio pouco lisonjeiro, cabendo, todavia, aqui a ressalva doutrinária, exposta na caracterização dos sonhos reflexivos, de que, embora tendo no presente uma vida mais ou menos equilibrada, poderemos, logicamente, reviver cenas desagradáveis, que permanecem virtualmente gravadas em nosso molde perispiritual.
Quem exercite, abnegadamente, o gosto pelos problemas superiores, buscará durante o sono a companhia dos que lhe podem ajudar, proporcionando-lhe esclarecimento e instrução.
O tipo de vida que levarmos, durante o dia, determinará invariavelmente o tipo de sonhos que a noite nos ofertará, em resposta às nossas tendências.
As companhias diurnas serão, quase sempre, as companhias noturnas, fora do vaso físico.
O esforço de evangelização das nossas vidas e a luta incessante pela modificação dos nossos costumes, objetivando a purificação dos nossos sentimentos, dar-nos-ão, sem dúvida, o prêmio de sonhos edificantes e maravilhosos, expressando trabalho e realização.
Com instrutores devotados nos encontraremos e deles ouviremos conselhos e reconforto.
Dessas sombras amigas, que acompanham a migalha da nossa boa vontade, receberemos estímulo para as nossas sublimes esperanças.³
Bibliografia:
1) E.S.E. – Cap. XVIII, item 38.
2) Fonte: Livro dos Espíritos – FEB, 76ª edição. ²
3) Livro: Estudando a mediunidade - Martins Peralva.
Francisco Rebouças