Em se tratando de reforma íntima:

“Fácil é dizer como se faz. Difícil é fazer como se diz. Precisamos fazer mais e dizer menos.

Francisco Rebouças.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Reflexão

Objetivos da Vida Humana


Inúmeras vezes nos deparamos pensando no sentido de existir em razão das nossas próprias experiências pessoais, por vezes de muitos desafios. Comumente a incerteza surge em nossa mente, abalando as estruturas internas, em razão da estreiteza espiritual em que ainda nos encontramos que não nos permite vislumbrar além da matéria.

A célebre frase dita pelos materialistas, e até por quem se diz “religioso”, de que vivemos para sofrer merece reflexão mais profunda, notadamente porque destituída de lógica e bom senso. Admitir tal hipótese seria negar a própria existência de Deus e de seus atributos, daí o Espírito Joanna de Ângelis, na obra Vida: Desafios e Soluções, psicografia de Divaldo Pereira Franco, Cap. 2, dizer-nos que:

“Ninguém se encontraria reencarnado na Terra, não tivesse a existência física finalidade superior. O ser é produto de um largo processo de desenvolvimento dos infinitos valores que lhe dormem em latência, aguardando os meios propiciatórios à sua manifestação. Etapa a etapa, passo a passo, são realizados progressos que se fixam mediante os hábitos que se incorporam à individualidade, que resulta do somatório das vivências das multifárias reencarnações.”

Ratifica este entendimento a Doutrina Espírita, quando na questão 166 e 166a, do título Da Pluralidade das Existências, em o Livro dos Espíritos, ensina-nos que:

“Questão 166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se ?

R. Sofrendo a prova de uma nova existência.

a) Como realiza essa nova existência ? Será pela sua transformação como Espírito ?

R. Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”

É inquestionável que a existência física tem um valor inestimável que precisa ser percebido por todos nós que displicentes, desatentos, “passamos” pela vida, sem atender os objetivos reais que nos fizeram aqui voltar.

Este processo de crescimento interior, proposta primeira que deve ser observada por nós, se faz em processo lento, continuado, exigindo do aprendiz perseverança, vontade firme, esperança, fé e amor. Não há outro caminho.

A compreensão da finalidade superior de que se reveste a vida, tem relação direta com o estudo que, indiscutivelmente, alarga o nosso pensamento, leva-nos a profundas reflexões que culminarão com a vivência prática de sua interiorização.

Ocorre que, comumente, diante dos desafios da vida, nos desesperamos, achamo-nos sem condições de superar os conflitos diários e nos posicionamos de forma negativa, fulminando todas as possibilidades internas que, de fato, possuímos para vencer. Erros e acertos fazem parte de nosso aprendizado, como nos informa Joanna de Ângelis:

“Erros e acertos constituem recursos de desdobramento da consciência para os logros mais grandiosos da sua destinação, que é a de natureza cósmica, quando em perfeita sintonia com os planos e programas do Universo. (...).
A saga da evolução é longa e, por vezes, dolorosa, deixando-lhe sulcos profundos, que noutras fases, sob estímulos inesperados dos sofrimentos, ressurgem como angústia ou violência, desespero ou amargura que não consegue explicar. (...).
Avançando lenta e seguramente, aprendendo com as forças vivas do Universo, entesoura os recursos preciosos do conhecimento que lhe custou sacrifícios inumeráveis no longo curso das experiências e agora se interroga a respeito da finalidade de todo esse curso de crescimento, descobrindo, por fim, que se encontra no limiar das realizações realmente plenificadoras e profundas, porque são as que significam libertação dos atavismos remanescentes, ampliando as aspirações na área das emoções mais nobres, portanto, menos afligentes, aquelas que não deixam as seqüelas do cansaço, da amargura ou do desânimo.”


Se o sofrimento ainda faz parte de nossa vida, não é por Criação Divina mas, unicamente, porque estamos incursos nas leis perfeitas que regem a vida. Sempre semeamos o que plantamos, inevitavelmente. A história que escrevemos hoje para nós, recebe as interferências, se assim podemos nos expressar, do passado de delitos e flagrante transgressão às leis de Deus que não passa incólume. Eis o desafio a vencer, sem trégua, sem desânimo. Muitos velam por nós. Não estamos a sós nessa empreitada cujo objetivo final é o triunfo espiritual. A conquista da luz interior.

Continua Joanna em seu texto:

“A criatura está fadada à felicidade, à conquista do Infinito, além das expressões do espaço.
A dor que hoje a comprime é camartelo de estimulação para que saia da situação que propicia esse desagradável fator de perturbação.
Compreendendo, por fim, a grandeza do amor, alça-se às cumeadas do trabalho pelo bem geral, empenhando-se na conquista de si mesma, do seu próximo, da vida em geral.
Tudo quanto pulsa e vibra interessa-a, retira-a da pequenez e conduz à grandeza, trabalhando-lhe o íntimo que se expande e se harmoniza em um hino de confraternização com tudo e com todos, passando a fazer parte vibrante da Vida.
Esse significado existencial somente é descoberto quando atinge um grau de elevada percepção da realidade, que transcende o limite da forma física, transitória e experimental que, todavia, pode e deve ser cultivada com alegria e saúde integral.”


Assim, a vida física para todos nós, espíritos encarnados, não se resume simplesmente no amealhar recursos financeiros, em juntar bens materiais, que são instrumentos proporcionados por Deus para o nosso conforto e progresso mas que não se constituem na finalidade primeira de existir. Devemos lembrar, todos os dias, da fugacidade do tempo e da impermanência da vida física. Um dia retornaremos a Pátria Espiritual, nosso verdadeiro lar.

“Não se creia, portanto, equivocadamente, que a finalidade primeira da conjuntura existencial seja viver bem, no sentido de acumular recursos, fruir comodidades, gozar sensações que se renovam e exaurem, alcançando o pódio da glória competitiva e todos esses equivalentes anelos do pensamento mágico, partindo para as aspirações fenomênicas e miraculosas dos privilégios e das regalias que não harmonizam o indivíduo com ele mesmo.
Certamente, na pauta dos objetivos e do sentido existencial, constam as realizações sociais, econômicas, artísticas, culturais, religiosas, todas aquelas que fazem parte do mundo de relações interpessoais. Entretanto, não são exclusivas – metas finais das buscas e das lutas – desde que o ser transpõe os umbrais do túmulo e continua a viver, levando os seus programas de elevação gravados no imo profundo.”

Ao final da leitura do texto sob análise, Joanna de Ângelis, nos convida à busca infatigável pela conquista dos valores reais da alma que nos farão seres melhores no mundo, mais capazes de enfrentar as lutas da jornada, com estrutura, equilíbrio e uma correta visão da vida e seus conflitos que a cada dia se apresentam mais desafiadores.

“Lutar sem fadigas exaustivas por conquistar-se, superando-se quanto possível, enfrentando os desafios com alegria e compreendendo que são os degraus de ascensão diante dos seus passos – eis como incorporará ao cotidiano os objetivos essenciais do seu aprimoramento físico, emocional e mental.”
Que sigamos as recomendações desse Espírito de luz para que alcancemos a vitória espiritual que, muitas vezes, significa insucesso para o mundo material.
Texto de Nadja Cruz Abreu
O Espiritista