Prezada amiga Rita Côre, queremos inicialmente agradecer-lhe pela gentileza em nos atender para essa entrevista que será exibida em O Espiritista e no Portal do Espiritismo.
1) Amiga Rita, como aconteceu o seu encontro com a doutrina espírita?
R: Na década de 70, já me interessava pelo assunto. Porém, apenas em 1980 comecei a freqüentar Centros Espíritas. Aliás, a essa altura já havia lido as obras da Codificação e estava conhecendo a série André Luiz. Até que, nos intervalos da vida profissional, pude participar de um grupo de estudos na SEF. Por poucos meses. Passei ainda pela antiga FEERJ e em curto espaço de tempo encontrei a UMEN! Fui, por alguns anos, simples freqüentadora das reuniões públicas, variando o horário (2ª, 3ª e 5ª), conforme os compromissos nas escolas e Secretaria de Educação. Naquele tempo, dava 62 aulas por semana...
2) Como e porque se deu sua ida para Laje do Muriaé?
R: Vivi 26 anos em Niterói. Minha cidade de eleição! Mas após a aposentadoria no Instituto Abel e na Secretaria de Educação, por ter raízes em Laje (história, familiares casa e chácara), optei por uma vida mais próxima da natureza.
3) Que funções você exerce na atualidade no movimento espírita?
R: Participo de eventos, de congressos, como palestrante; além de estar sempre em contato com o Movimento, em visita aos Centros, coordenando estudos. Nessas viagens faço um “circuito” pelos estados: Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. Não só realizo palestras, mas ouço, participo, aprendo. Acho muito importante que “quem fale ouça”, para aprender com os confrades (ou não). É fundamental não se prender a uma posição exclusiva e estanque. Um dos maiores prazeres que tenho, nos eventos de que participo, é poder descobrir com os companheiros de Doutrina o resultado de seus estudos.
4) Como começou sua ligação com O Centro Casa Espírita Joanna de Angelis?
R: Quando cheguei a Laje, o CEJA tinha sido fundado há alguns anos. Estava construindo sua sede. Ainda com poucos adeptos. A característica do Centro é ter nascido de um grupo de estudos. Isso é bom, pois o fenômeno é investigado dentro dos parâmetros da Codificação, não se constituindo fonte de espanto ou oportunidade para exibições mediúnicas.
5) Como está o movimento espírita na sua Cidade?
R: A cidade tem uma população de aproximadamente 7000 habitantes! Igreja Católica atuante, além de templos evangélicos. Daí se depreende que tivemos algumas dificuldades. Hoje os espíritas somos respeitados, embora poucos. A casa tem uma freqüência média de 18 a 20 pessoas nas reuniões públicas, embora cerca de 40 lajenses se digam espíritas...
6) E na Região como um todo?
R: A nossa região corresponde ao 1º CEU que reúne 10 municípios: Aperibé, Bom Jesus do Itabapoana, Cambuci, Itaocara, Itaperuna, Laje do Muriaé, Miracema, Natividade, Porciúncula e Santo Antônio de Pádua. São 23 Centro Espíritas. Há iniciativas constantes no sentido da unificação e capacitação de trabalhadores. Temos dois eventos anuais importantes. Um, que tem pólos em vários pontos do Estado, já conhecido, que é a COMEERJ e outro, de nossa região, a SENOF (Semana Espírita do Noroeste Fluminense). Realiza-se em julho. Neste ano teremos a 50ª SENOF! Maiores informações sobre o 1º CEU encontram-se em http://www.ceunoroeste.org.br/
7) Quais as maiores dificuldades de se divulgar e praticar o espiritismo nas cidades do interior do estado?
R: Muitos núcleos espíritas do interior surgiram na primeira metade do século XX e se iniciaram com uma prática medianímica empírica. Poucos companheiros tinham a devida formação teórica. Não havia tradição de estudo. A principal dificuldade está justamente em dar uma nova direção a determinadas Casas, em relação à necessidade do ESDE e à capacitação continuada, para vencer uma mentalidade mágica que não se coaduna com a Doutrina Espírita. Porém, o 1º CEU tem trabalhado bastante nesse sentido. O progresso é visível. A outra dificuldade que enfrentamos é a distância geográfica dos municípios. Nem sempre é possível reunir todos os responsáveis pelas atividades das Casas Espíritas.
8) Existem muitas divergências em termos de interpretação da mensagem espírita, em sua opinião porque isso ocorre se os ensinamentos espíritas são tão claros?
R: Há divergências, sem dúvida. Ocorrem por falta de estudo bem orientado, sistematizado. E por que não dizer, devido ao velho “personalismo”. As discussões ditas doutrinárias, na verdade, se devem ao desconhecimento da Doutrina! Contraditório? Sim, mas é fato. No entanto, vêm diminuindo entre aqueles de “boa vontade”. A mensagem espírita é clara, claro! Mas só para os que se dispõem a conhecê-la. Daí as mentes enevoadas...
9) Existem outros grupos de estudos da doutrina espírita na cidade de Laje do Muriaé?
R: Não. A cidade é pequena...
10) Existe muita dificuldade em se convencer os companheiros a estudarem a doutrina nos grupos de estudos das casas espírita, em sua opinião porque isso acontece?
R: Por falta de preparo! Não há tradição de leitura no Brasil. Por outro lado os coordenadores de Grupos de Estudo precisam buscar recursos que prendam a atenção dos que procuram aprender. Para tanto, deveriam se capacitar de forma mais integral. Isto é, Espiritismo implica domínio de outros saberes, como História e Filosofia. Um coordenador de grupo é como um professor no sentido moderno da palavra: um facilitador, um dinamizador. Há de ter um conhecimento associado ao espírito evangélico para atingir também os corações. Em contrapartida, existem os “resistentes” ao estudo, porque acham que já “sabem a Doutrina”. Nesse grupo, infelizmente, encontram-se alguns médiuns invigilantes. Quem diz que sabe é pseudo-sábio, logo... É urgente reajustar as antenas!
11) Como você viu a derrota da Lei que aprovaria o crime pelo aborto?
R: A Providência Divina oferece ao homem uma despensa com as provisões necessárias para a alimentação do BEM na Terra. Mas é necessário saber abri-la, com participação e esforço na construção de um mundo melhor. Foi assim: os bons descruzaram os braços e foram à luta!
12) Queremos parabenizá-la e a todos os outros responsáveis pela iniciativa do blog do Centro espírita Joanna de Angelis na internet, o que nos possibilitou tomar conhecimento do que está acontecendo aí e em toda a região, de quem foi essa feliz iniciativa?
R: De uma das Coordenadoras da Mocidade: Thalyta Fernandes Martins, com o apoio de uma velha tia que não fica velha.
13) Com a sua volta para a região, e o excelente trabalho desenvolvido por você e seus companheiros do C.E.J.A., houve crescimento de adeptos da doutrina espírita na cidade?
R: Da palavra, do gesto, do exemplo surgem laços de afeto, rastros de luz que vêm do “mundo maior!” Basta que nos coloquemos como instrumentos de fato. Aí, o Espírito sopra! No CEJA somos uma equipe, a trabalhar em nome da Doutrina. O segredo está aí. Por isso os adeptos chegaram. Eram cinco, hoje somos 20. Todos os tarefeiros estudam e participam das reuniões públicas. Não contei os que não são assíduos!
14) Quais foram as maiores conquistas de sua dedicação à causa espírita?
R: Alegria, convicção. Só consegue manter a alegria íntima (relativa, é claro) quem trabalha a si mesmo através do outro. Estamos interligados. Quanto mais me dedico ao Espiritismo mais me conscientizo do quanto tenho de aprender. Tudo caminha, caminha... e caminhando com o Espiritismo, fico mais perto de Jesus. Oh, Deus! E não é maravilhoso?
15) Quais são os maiores desafios a conquistar?
R: O maior desafio do homem é conhecer a si mesmo, para descobrir Deus e se descobrir sempre Vida, que é eterna. Não por princípios religiosos, mas por razões naturais. Sou parte dessa humanidade.
16) O que você diria a quem lhe pedisse orientação de obras para iniciar no conhecimento do espiritismo?
R: Muita gente começa pelos romances. Se for o caso, que sejam os de Emmanuel ou de André Luiz. Mas a iniciação verdadeira se dá com O Livro dos Espíritos. É difícil? Pura lenda. Então vamos aprender a ler! Vamos estudar em grupo na Casa Espírita, para que nos ajudemos uns aos outros. Sem embasamento doutrinário, os melhores romances podem não atingir seus objetivos. Nos dias atuais é imprescindível alertar os novos leitores sobre a “avalanche” de obras mediúnicas fantasiosas. Em termos de escritos psicografados, se tivermos tempo nesta encarnação para ler as obras que nos chegaram através de Chico, Dona Ivonne, Divaldo, José Raul... Nossa! Que vitória! Mas acima de tudo: Codificação, codificação, codificação...
17) Porque nos dias de hoje, 2008 anos após Jesus nos trazer suas mensagens de amor e respeito ao próximo, o ser humano ainda não pratica seus ensinamentos?
R: Por atraso, inerente ao estágio em que alguns estão por natureza e outros por teimosia! Precisamos aprender primeiro a nos respeitar. O orgulho torna o homem cego, como terá, então, olhos de ver?
18) Quais seus projetos para o futuro?
R: Construí-lo através de um presente bem vivido. O mais virá por acréscimo. O momento é agora. A cada dia seu cuidado!
19) Rita Core, o Portal do espiritismo, lançou há bastante tempo a campanha Onde estão as crianças filhas de pais espíritas? Vamos evangelizar os "pequeninos"? Visando incentivar a evangelização infantil no Estado do Rio de Janeiro, e, temos recebido muitas informações do Brasil todo de que muitas casas espíritas que não tinham esse trabalho começaram a desenvolvê-lo partir de nosso incentivo. Existe esse trabalho de evangelização da infância além do que já é feito com a mocidade aí em Laje do Muriaé?
R: A Evangelização Infantil em Laje sempre existiu, mas é como rio no nordeste: às vezes desaparece! Somos poucos freqüentadores e poucos tarefeiros. Todos os filhos dos freqüentadores passam pela Evangelização.Crescem, vão para a Mocidade. Depois, literalmente, se casam e se mudam para as cidades grandes! Já tivemos, como temos ainda, crianças que não possuem pais espíritas e são levadas ao Centro por parentes e vizinhos. De qualquer forma é sempre gratificante.
20) Rita Côre, do que você gostaria de ter falado que não te perguntamos?
R: De gratidão. Não há outra palavra para expressar o que sinto pela UMEN. Os primeiros passos na Doutrina Espírita são fundamentais. Representando a instituição e todos os amigos que me são caros, eis um nome: Miguel Tavares de Gouvêa! E gratidão é amor. Obrigada, obrigada!
21) Para encerrar, gostaríamos que você deixasse registrada sua mensagem a toda família espírita brasileira, através do Portal do Espiritismo e de O Espiritista.
R: O Espiritismo nos ensina que a reencarnação amplia laços de afeto. Também os ideais nobres nos unem. Conhecemo-nos antes? Que importa? Somos todos irmãos. Eis a família. Estamos juntos agora. Mas para estar juntos é preciso participar. Que nenhum membro da nossa família fique em casa “vibrando” para os que estão na Casa Espírita! Vá lá, coragem. A hora é esta!
Agradecemos a amiga Rita Côre, pela gentileza em atender nosso convite para esta entrevista, e rogamos ao Mestre de Nazaré que a guarde em sua paz, hoje e sempre.
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JFCR.